Na ligação entre crise planetária, cidadania e saúde mental, pretendemos actuar em quatro áreas principais:
Psicopedagogia das alterações climáticas – sensibilização e combate à alienação, negação e resistência
À semelhança de outras organizações juntando clima e psicologia, a EcoPsi promove o interesse e uso da psicologia e psicoterapia como instrumentos para a mobilização da cidadania e ação política de indivíduos e grupos, seja na promoção do bem-estar e saúde psicológica de ativistas através de práticas terapêuticas individuais e de grupo, seja no uso da psicologia contra o negacionismo climático. Eis alguns dos nossos objetivos psicopedagógicos:
- Encorajar para a cidadania ambiental, modificação de hábitos de consumo e mobilização política para a causa ambiental;
- Educar e sensibilizar para a resiliência emocional face às alterações;
- Encorajar a consulta e discussão de conhecimento obtido em fontes científicas fidedignas; divulgar e produzir recursos apropriados à população;
- Combater o derrotismo e os fenómenos de helplessness (Seligman) que levam a uma parálise de ação por indivíduos e grupos;
- Sensibilizar para o combate à alienação, negação e resistências várias em relação a este tema.
- Sensibilizar para a justiça climática, seja, pensando que são exatamente as populações mais frágeis ou desfavorecidas (i.e. que menos contribuíram para o problema) que mais sentirão os efeitos das alterações e contribuindo para medidas de combate à mesma;
- Promover formas de iniciar e conduzir diálogo sobre a questão climática de forma construtiva e não violenta;
- Promover atividades de formação de psicólogos, terapeutas e outros profissionais de saúde mental no âmbito das questões climáticas.
Eco-ansiedade
A eco-ansiedade (termo cunhado pelo psicólogo Albrecht em 2012) é distinta de outras formas de ansiedade (como a ansiedade social ou fobias diversas) pela componente real da problemática associada. Albrecht define ecoansiedade como um “sentido generalizado que a fundação ecológica da existência está num processo de colapso” (Albrecht, 2012, p. 249).
No âmbito de uma intervenção sobre a eco-ansiedade, a EcoPsi visa:
- Organizar e promover grupos de suporte por pessoas diversas para a partilha de sentimentos difíceis sobre as alterações climáticas (climate grief), bem como partilha de estratégias para lidar com os mesmos;
- Fornecer apoio a famílias para a gestão da eco-ansiedade em contexto familiar;
- Organizar e promover a formação de psicólogos, terapeutas e outros profissionais no manejo da eco-ansiedade e emoções ligadas ao luto climático;
- Divulgar estratégias de gestão da eco-ansiedade no seio de ativistas climáticos;
- Ajudar à delimitação, identificação e manejo da eco-ansiedade em escolas e outros contextos de aprendizagem;
- Promover práticas de psicoterapia e intervenção psicológica que incorporem ativamente o conhecimento da eco-ansiedade e luto climático.
Suporte e Ativismo – apoio individual e de grupo; organizacional e ativistas pela justiça climática
Num ponto da nossa ocupação do planeta em que o impacto sobre os ecossistemas nunca foi tão forte, esta não é sentida por todos da mesma forma. São precisamente os grupos mais desfavorecidos e vulneráveis que mais sentem os efeitos das alterações. Sujatha Bryavan e Sudhir Chella Rajan chamam a este fenómeno ‘impactos assimétricos’ (2010) implicando um maior impacto nas populações desfavorecidas ou estigmatizadas. Este impacto é tanto mais injusto por se tratar precisamente de grupos que menos usufruem dos benefícios de uma economia baseada em combustíveis fósseis.
Neste ponto, são objetivos da EcoPsi:
- Promover a visibilidade de populações vulneráveis e sua participação no desenhar de novos acordos climáticos;
- Promover o princípio de justiça climática intergeracional no acesso a bens e recursos entre diferentes grupos etários;
- Criar ações integradas que articulem o conhecimento as práticas de direitos humanos gerais com direito e responsabilidade climática.
Em termos de saúde mental e suas implicações, quando não mediado por alguns cuidados fundamentais, o ativismo encerra um conjunto de práticas que podem conduzir a estados de ansiedade, depressão ou burn-out.
O apoio psicoterapêutico pode ser uma mais valia preciosa na promoção de self-care e estratégias de manutenção do stress ativista. Salientam-se neste ponto como objetivos da EcoPsi:
- A criação de uma rede psicoterapêutica de apoio aos ativistas vocacionado para apoio individual, apoio em situações de grupo e mediação de conflitos;
- Disponibilização de recursos psico-educacionais para ativistas no âmbito de self-care e saúde mental;
- Criação, gestão e manutenção de grupos de pares entre ativistas (user/affinity groups com vista a práticas de cultura regenerativa
Resposta rápida e trauma – apoio em situações pontuais traumáticas causadas pelas alterações climáticas (catástrofes e deslocamento das pessoas)
O psicólogo Albrecht designou por “solastalgia” (2012) um conjunto de sentimentos de desolação e melancolia acerca do lugar de pertença do sujeito informados pela detioração crónica do meio ambiente circundante. Este é o conjunto de sentimentos que cada vez mais acompanha áreas geográficas sujeitas a incêndios ou secas regulares.
A psicologia, psicoterapia e o ativismo, em colaboração, podem contribuir não só ao nível da resposta proativa, mas também da resposta reativa. Neste ponto, são objetivos da EcoPsi:
- Intervir em situações de catástrofe, construindo e reforçando laços comunitários com vista à resiliência de indivíduos e famílias;
- First Aid psicológica para vítimas de catástrofes naturais, em termos de avaliação psicológica, apoios psicológico e psicoterapêutico, intervenção em crise e mediação de grupo;
- First Aid psicológica para vítimas de pandemias, em termos de avaliação psicológica, apoios psicológico e psicoterapêutico, psico-educação e intervenção em crise;
- Ativismo dirigido a populações de eco-migrantes com vista à reinvidicação de direitos fundamentais e solidariedade nacional e internacional.
Promovemos a articulação da psicologia e psicoterapia como formas de pensamento acerca da crise climática com vista à intervenção no terreno e trabalho aplicado.